Sob o tema da resiliência climática, evento aconteceu no Quirguistão e contou com cerca de 250 participantes de diversos países
A 3ª edição do Fórum Global do Escolas2030 com o tema Agência de Professores para a Resiliência Climática aconteceu na Ásia, mais precisamente em Bishkek, no Quirguistão, entre os dias 10 e 14 de junho, contando com cerca de 250 participantes de países diversos.
Foi uma longa jornada para Elton Luz, diretor da EEEP Alan Pinho Tabosa, desde sua cidade no interior do Ceará, Pentecoste. Segundo o educador, que teve a oportunidade de representar a comunidade de educadores do programa no Brasil, a experiência foi um ponto alto de sua vida, tanto profissional quanto pessoal. No salão dourado da residência de Estado do Quirguistão, que sediou o primeiro dia do evento, Elton teve breves cinco minutos para realizar a apresentação sobre a formação de lideranças cooperativas e solidárias promovida pela escola, em um painel com professores de outros quatro países que compõe o programa globalmente.
Em sua fala, compartilhou sobre o grande desafio da região em relação à migração histórica de pessoas afetadas pelo clima árido, situação que se agrava diante da mudança climática. A partir deste contexto, apresentou o movimento PRECE que busca endereçar esse desafio formando lideranças que possam mudar a realidade local. Conforme explicou em sua exposição, a escola que dirige hoje foi fruto da articulação entre o movimento, a Secretaria Estadual de Educação do Ceará e a Universidade Federal do Ceará buscando ampliar e fortalecer a formação de lideranças por meio da educação formal.
Já se passaram 13 anos e são muitos os frutos colhidos a partir da ação da escola: melhores resultados nas ditas habilidades acadêmicas; a escola compreendida como uma comunidade de apoio e os colegas como parceiros na aprendizagem; desenvolvimento de competências de liderança com projetos centrados na sustentabilidade e na educação climática e projetos de transformação desenvolvidos para além de seus muros, junto à comunidade. Além disso, o professor ressaltou o reconhecimento da experiência do PRECE e da escola pelo governo federal, seja no momento de lançamento da política de Educação Integral e Tempo Integral ou mesmo na articulação junto a Universidades Federais para expansão da abordagem em todo o país.
De acordo com Elton: “apresentar a experiência de formação de lideranças cooperativas e solidárias e receber feedbacks positivos de participantes de diversas regiões do mundo nos confirma que empoderar a juventude contribuindo para desenvolverem competências acadêmicas e não acadêmicas é o caminho para desenvolver resiliência climática e ir além, formando agentes de transformação.”
Para além de sua apresentação, que teve repercussão muito positiva, Elton também ressaltou a importância da participação nas atividades diversas promovidas no Fórum: “Os painéis de debate e compartilhamento de experiências de diferentes regiões promovidas pelo Escolas2030 permitem ampliar a nossa visão de mundo, a urgência de expandirmos o debate e as ações voltadas para o cuidado com o planeta, bem como a centralidade das Escolas e dos professores e estudantes nessa questão”.
Representantes ministeriais
Além de um representante da comunidade de educadores, nessa edição do Fórum a equipe global convidou também uma pessoa representando o governo do país. Aline Zero, Coordenadora de Projetos na Coordenação-geral de Educação Integral e Tempo Integral no Ministério da Educação (MEC), fez parte da comitiva nacional e teve diferentes momentos de interação no evento que reuniu professores, pesquisadores, representantes de governo, fundações e organizações da sociedade civil.
Além da participação geral ao longo do Fórum, Aline teve especial contribuição no primeiro dia em uma mesa redonda a convite da Ministra da Educação e Ciência do Quirguistão, junto a representantes ministeriais de outros países do programa, além dos professores e equipe global. Também no último dia, a Coordenadora foi uma das responsáveis por facilitar a conversa entre Brasil e Portugal sobre avanços, desafios e futuro do Escolas2030. Nas palavras de Aline: “A participação do Ministério da Educação no evento permitiu levarmos um pouco de nossas ações relacionadas à educação integral para o contexto internacional, bem como trazer aprendizados com a troca de experiências e boas práticas de outros países”.
A oportunidade de fazer parte de um momento global do programa permitiu, ao mesmo tempo, que ela pudesse compreender mais sobre o contexto nacional de implementação: “Também pudemos conhecer mais de perto a potente pesquisa-ação realizada no escopo do projeto Escolas 2030 no Brasil e refletir sobre os avanços necessários para a avaliação de experiências de educação integral efetivas e humanizadoras como a da escola Alan Pinho Tabosa, de Pentecoste/CE, também representada no evento.”
Equidade e resiliência climática
Além de Aline e Elton, Bruna Chung e Thaís Mesquita, da equipe coordenadora do Escolas2030 no Brasil, puderam contribuir a partir das experiências, respectivamente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e da Ashoka, as instituições responsáveis pelo desenvolvimento do programa no país.
No segundo dia de Fórum, Bruna promoveu uma oficina sobre a intersecção considerando equidade e resiliência climática, junto a outras pesquisadoras do tema. Foram apresentadas experiências sobre promoção da equidade e os participantes reunidos em grupos refletiram e debateram sobre o desenvolvimento de uma educação comprometida com a equidade, enfatizando que a resiliência climática depende dela. De acordo com Bruna: “a interação entre professores, pesquisadores, parceiros de avaliação e organizações foi fundamental para aprofundar nosso entendimento coletivo sobre o tema e gerar percepções valiosas sobre os caminhos possíveis para implementar esses conceitos na prática educacional.”
No último dia, dedicado à pesquisa e evidências, foi o momento de Bruna apresentar os resultados parciais da pesquisa-ação desenvolvida pela Feusp juntamente a pesquisadores da comunidade de educadores do programa sobre a relação entre pesquisa-ação e equidade. Ela destaca: “a pesquisa conduzida pela Feusp permitiu captar as opiniões dos educadores das escolas do Escolas2030, destacando o papel central desses profissionais na promoção da equidade educacional. Apesar da escassez de evidências na literatura, observamos que, ao participarem da pesquisa-ação, os educadores têm a oportunidade de refletir sobre suas práticas inovadoras e, assim, aprimorar a promoção da equidade em suas escolas.”
Quanto à participação no Simpósio de Evidências e o Fórum de maneira mais ampla, Bruna avalia como uma oportunidade significativa para explorar as descobertas de outros países participantes do programa global: “as evidências compartilhadas revelaram que, apesar das particularidades de cada contexto nacional, enfrentamos desafios semelhantes. Nesse sentido, o ambiente de debate e troca de conhecimentos no Fórum Global foi enriquecedor, permitindo abordar nossos desafios sob diferentes perspectivas e desenvolver soluções contextualizadas de forma colaborativa.”
Diálogos e reflexões em rede
Buscando dar mais visibilidade à atuação dos denominados coordenadores nacionais dos 10 países do Escolas2030, Thaís Mesquita foi convidada pela equipe global a compor um painel sobre tradução de evidências para a prática no terceiro dia do evento junto à coordenadora nacional da Índia, pesquisadores da UNESCO e da Universidade de Notre Dame e o CEO da Jacobs Foundation. Em sua fala, ela teve a oportunidade de compartilhar sobre como o programa está sendo implementado no Brasil, com destaque para a agência de professores promovida pela pesquisa-ação e os resultados expressivos do Curso de Extensão Escolas2030 desenvolvido pela Feusp.
Quanto à questão da escalabilidade, tão cara ao programa, Thaís apontou a importância de não focar em uma replicação em larga escola de inovações mais pontuais produzidas pelas escolas, discurso presente em outras falas no Fórum. De outro modo, afirmou que o movimento de ampliação em larga escala deve considerar as condições para que as inovações sejam produzidas, os contextos específicos e a autonomia das equipes das diversas organizações educativas. Sobre o papel dos professores na promoção das aprendizagens, afirmou: “muitos estão lutando contra o sistema para inovar. Não queremos que sejam heróis, mas que tenham as condições necessárias para que possam promover uma educação de fato de qualidade”.
A fala teve considerável repercussão, tanto entre fundações globais como entre as professoras. Na avaliação de Thaís: “a participação no painel foi uma oportunidade chave para a equipe coordenadora dialogar diretamente com os cerca de 250 delegados sobre nossas premissas, escolhas e entendimentos sobre o Escolas2030, partilhando aprendizados de nossa comunidade de educadores no Brasil.” Ela também destacou a importância de contribuir com as reflexões a partir das diferentes concepções que emergem desses aprendizados: “Pautar temas como a fundamental e não acessória importância das aprendizagens não acadêmicas na promoção da educação integral e transformadora, a questão da sustentabilidade das inovações se pautarem pelo envolvimento de toda a comunidade escolar e o entendimento de que não apenas professores devem ter agência como também estudantes em seus processos de aprendizagem e sobre as suas realidades, foi fundamental à ampliação do debate”.
Além dos quatro dias de intensos diálogos e reflexões, no primeiro dia em Bishkek foi promovida pela equipe local a visita à uma escola participante do programa no país que sediou o evento, experiência que ampliou a visão de possibilidades do programa à equipe do Brasil. Além disso, os debates foram permeados por uma série de apresentações culturais, com destaque para um convite ao Teatro Nacional de Ópera e Ballet do país, onde os participantes puderam apreciar performances de canto e dança da cultura local. Segundo Thaís: “Levamos deste Fórum não apenas inspirações e reflexões sobre as temáticas do programa e a certeza de uma ótima representação de nossa comunidade do Brasil, com destaque para a apresentação de Elton. Estão também em nossa bagagem lembranças e sentimentos provocados por uma vivência plural que nos foi proporcionada com muito acolhimento, contemplando na prática a visão da integralidade dos sujeitos, que tanto prezamos na educação integral e transformadora”.