Dedicado à cultura e resistência negra, o evento ofereceu rodas de conversa sobre a Lei 10.639/03 e a importância da educação antirracista
Ao longo do ano de 2023, o CIEJA Campo Limpo organizou mais de 26 ações voltadas para a educação étnico-racial, cuja culminância aconteceu no dia 26/10, no XVIII Seminário Étnico-Racial do CIEJA Campo Limpo, em São Paulo (SP).
Dedicado à cultura e resistência negra, o evento, aberto para a comunidade, se estendeu da manhã à noite e ofereceu rodas de conversa sobre a Lei 10.639/03 e a importância da educação antirracista, feira de afro-empreendedorismo, apresentações artísticas, mostra de curta metragens e oficinas de percussão, culinária, capoeira, arte africana, Beat Box, entre outras.
Para Diego Elias, coordenador geral do CIEJA Campo Limpo, a trajetória dos 20 anos de implementação da Lei 10.639/03 e das 18 edições que a instituição promove o Seminário Étnico-Racial se entrelaçam. A proposta do evento começou a ser idealizada em 2004 pelo professor Antônio da Silva (in memoriam), que trabalhou 22 anos no CIEJA Campo Limpo e fez um curso sobre a efetivação da Lei assim que ela foi sancionada.
No ano seguinte, a discussão já fazia parte da instituição com enfoque sobre como professores e comunidades escolares poderiam se posicionar sobre a questão antirracista. “Não tivemos duas edições por conta da pandemia, mas era para estarmos na 20ª edição do seminário”, explica Diego.
Escolas Transformadoras
Também fez parte do seminário a mesa “Conhecendo Escolas Transformadoras”, que convocou representantes do programa Escolas2030 das escolas EM Quilombola Profa Lydia Sherman (RJ), Escola Pluricultural Odé Kayodê (GO), EM Anne Frank (MG), EM Antonio Coelho Ramalho (SP) para falar sobre suas políticas e práticas em prol da educação antirracista.
Principalmente este momento, mas o seminário de maneira geral, se articulou com o seminário “A Educação Integral e Transformadora é Antirracista”, promovido pelo Escolas2030, no dia 27/10, na Faculdade de Educação da USP, em São Paulo (SP), com o intuito de discutir como as escolas inovadoras brasileiras estão construindo uma educação para as relações étnico-raciais no dia a dia da Educação Básica.
“A escola que se intitula integral em sua mais ampla concepção de integralidade humana, de uma forma mais holística, não só em relação ao tempo relógio-escola, mas ao tempo vida, do desenvolvimento, deve ser antirracista. Toda escola integral e transformadora tem por obrigação ser antirracista”, resumiu Diego.
Para ele, o olhar do programa Escolas2030 para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da educação integral e inovadora reforça a necessidade de que se aborde a questão étnico-racial não só em eventos e datas pontuais, mas todo o tempo. “É unir esforços para pensarmos uma educação transformadora, integral e que deve ser obrigatoriamente antirracista”, afirma.
Trabalho em rede
O XVIII Seminário Étnico-Racial do CIEJA Campo Limpo contou com o apoio da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo para divulgação do projeto. Além disso, foi feita uma parceria com a Diretoria Regional de Educação do Campo Limpo para planejar e oferecer um curso para a formação continuada de professores sobre o tema das relações étnico-raciais, que envolveu ao todo 40 escolas.
“A formação de professores tem que ser propositiva não só para escutar, mas para participar de oficinas, palestras, etc. Então nossa estratégia foi fazer com que o CIEJA Campo Limpo fosse conhecido e reconhecido pelas escolas ao redor, e que nossa expertise de 18 anos pudesse servir de norte para outras escolas, de forma a contagiá-las a devolver a temática também”, conta Diego.
Outra reflexão que o Seminário traz é pensar como uma escola como o CIEJA Campo Limpo consegue se articular com o território. E nem sempre é fácil. Uma das ações do seminário, por exemplo, foi um cortejo que saiu pelas ruas do bairro. “Quando a gente fala de comunidade negra, de nossas tradições, estamos falando do batuque, de religiosidade de matriz africana, de música, de barulho, e tivemos uma reclamação da vizinhança”, conta Diego.
Por isso, o melhor caminho, defende o coordenador, é abrir a escola para a discussão étnico-racial para também mostrar para a rede de parceiros que a temática é extremamente importante. “Então, temos que pensar no tema, mas também na conduta, no repertório, como isso impacta a comunidade”, reflete Diego.