06/10/2020 - Thais Paiva

Confira os destaques do webinário “Escolas2030: aprendendo com as organizações educativas do Sul global”

Ícone do FacebookÍcone do TwitterÍcone do WhatsApp

Debate abordou panorama da inovação diante dos atuais desafios e oportunidades, refletindo sobre como o Escolas2030 pode contribuir para este cenário.

Tão diversos quanto os desafios que perpassam a educação brasileira são as experiências exitosas em contorná-los, apoiando-se em paradigmas educacionais inovadores. Mas apesar de serem referências para suas comunidades, estas organizações educativas quase nunca são escutadas ou convidadas a co-criar os parâmetros de avaliação de uma educação de qualidade no Brasil e no mundo. Fato que o programa Escolas2030 pretende mudar.

Este foi um dos pontos que pautou o webinário “Escolas2030: aprendendo com as organizações educativas do Sul global”, que ocorreu no dia 28 de setembro de 2020 para marcar o lançamento do site do programa. Com uma mesa composta por educadores de diferentes origens, o debate abordou o panorama de inovação educativa diante dos atuais desafios e oportunidades, refletindo sobre como a proposta do programa global pode contribuir para este cenário.

“O Escolas2030 é uma iniciativa trazida para o Brasil por diversas organizações que se deram conta de que o mundo tem muito a aprender com estas experiências”, explicou Helena Singer, líder da Estratégia de Juventude da Ashoka América Latina e responsável pela mediação do webinário.

Na abertura da conversa, Helena também destacou a importância de inverter a lógica da construção das avaliações. “Os indicadores e processos de avaliação são construídos de cima para baixo – nas universidades, gabinetes dos governos, organizações internacionais -, em uma instância que não é a da escola que é colocada para formular as perguntas, o que se quer avaliar e os processos para que isso seja aplicado em larga escala”, explicou.

Com o objetivo de reverter esse cenário, o programa Escolas2030 convidará 100 organizações educativas em cada um dos países participantes, entre eles o Brasil, para serem autoras de um processo de pesquisa-ação ao longo de 10 anos. Sobre o conceito do termo pesquisa-ação, Elie Ghanem, pesquisador da Faculdade de Educação da USP, explicou: “As perspectivas adotadas por esta metodologia visam fortalecer o próprio grupo, de forma a torná-los sujeito da produção de conhecimento e, ao fazer isso, aumentar o poder dessas pessoas não só para entender sua realidade, mas para intervir nela.” 

Em outras palavras, a pesquisa-ação propõe que o processo de investigação seja, ao mesmo tempo, um processo de produção de conhecimento e de transformação das pessoas nela imersas. “Então, é uma perspectiva de participação política, de identificar os centros de poder, as forças pessoais e coletivas e agir nessas decisões”, complementou Elie. 

Perspectiva das organizações educativas

Em consonância com os objetivos do programa, o debate convocou os próprios educadores para falar sobre suas perspectivas e práticas cotidianas. O primeiro deles foi Elton Lopes, da Escola Estadual de Educação Profissional Alan Pinho Tabosa, localizada em Pentecoste (CE), que atende alunos, sobretudo, da zona rural. Alicerçada nos princípios da educação popular que fundamentaram a experiência do Programa de Estímulo à Cooperação na Escola (PRECE), programa de extensão da Universidade Federal do Ceará, a escola trabalha com a metodologia da aprendizagem cooperativa.

“Hoje não existe parâmetros nas redes de ensino que avaliem se os estudantes estão aprendendo a cooperar, a serem criativos, a terem empatia, se estão sendo protagonistas. Creio que este é um dos papéis do Escolas2030: criar parâmetros para o impacto das políticas educacionais e de cada instituição a partir destes conhecimentos e competências, pois é um desafio para organizações inovadoras manterem seus trabalhos diante da falta de critérios que reconheçam a energia dispensada nas estratégias inovadoras”, opinou.

O debate seguiu com Valmira Ribeiros dos Santos, da Escola Comunitária Luiza Mahin, localizada em Salvador (BA). A escola, que nasceu dentro de uma associação de moradores fundada por um grupo de mulheres negras, atua a partir de três eixos estruturantes: gênero, raça e pertencimento. “Acho que o programa vai ajudar a reafirmar nosso currículo neste momento desafiador que é o pandêmico, pois nossa metodologia sempre foi baseada na coletividade e agora com as crianças em casa nos vemos diante deste desafio de manter a escola viva”, dividiu.

Representando a Secretaria Municipal de Belo Horizonte, Maria do Socorro Lages Figueiredo trouxe o ponto de vista da gestão das redes de ensino. “Para mim, o programa traz a oportunidade de uma avaliação em educação integral, do ser humano em sua plenitude. Então Belo Horizonte acolhe esse projeto, porque acredita que ele vai trazer reflexão e planejamento sobre a forma que a gente avalia, que avaliação é essa que a gente faz para que também sejamos instrumentos de mudança. Porque não é no gabinete que se faz educação, é escutando os professores e alunos.”

Para finalizar, Ana Rosa Calado, integrante do Engajamundo e membro do Comitê Consultivo do Programa, compartilhou seu entendimento sobre juventudes e pluralidade. “Eu parto de um lugar de educação não-escolar e que interroga a todo momento a prática escolar. E essas interrogações surgem no momento em que as juventudes começam a entender que elas também são produtoras de saberes, que precisam ser considerados nas escolas”, apontou. 

Segundo a jovem, é nesta perspectiva que Engajamundo e Escolas2030 convergem: ambos interrogam quais são as possibilidades de aprendizagem que podemos trazer para o mundo e que levantam novas maneiras de se educar. “Todos nós temos muito a ensinar e contribuir. Quando a gente olha para as juventudes e outros sujeitos que foram silenciados a gente ressignifica a forma de educar. E o Escolas2030 traz isso consigo: de olhar a partir do Sul, do miúdo, daquele pontinho que acreditam que pode ser desconsiderado, mas que faz parte deste ciclo que é a vida.”

Assista ao webinário na íntegra!

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.